Uma pesquisa realizada pela Insurtech braileira Azos, uma empresa especializada em seguros de vida, revela que entre 2014 e 2019, o número de suicídios no Brasil aumentou em 28%. Neste período, o número de pessoas que tiraram a própria vida subiu de 9,7 mil para uma média de 12,4 mil.
Segundo o levantamento que envolve dados disponibilizados pelo IBGE, houve um aumento de 49% na taxa de suicídio de jovens entre 11 a 20 anos nos últimos 7 anos. Todavia, a faixa etária com maior índice de mortes por essa natureza continua sendo entre pessoas com 21 a 30 anos.
Com a intenção de conscientizar a sociedade a respeito destes números alarmantes, a Associação Brasileira de Psiquiatria, ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, CFM, organizam nacionalmente, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo. Neste ano, o slogan do programa é ‘Agir salva vidas’, alcançando repercussão nacional e contando com a colaboração da opinião pública, sociedade civil, instituições públicas e privadas. A reportagem do Jornal Informante procurou a psicóloga Claudilene Silva, que destacou algumas das principais causas para o suicídio no Brasil. “Depressão, situações de bullying (sendo eles cibernético ou presencial), o uso abusivo de álcool e drogas, problemas que afetem áreas emocionais (familiares ou amorosos) e baixa auto estima. Essa baixa autoestima pode afetar em várias áreas: social, laboral, convivência levando inclusive à depressão’, explica.
Redes sociais
Sobre o paradigma das relações cibernéticas, o advento de uma sociedade globalizada e conectada em tempo integral pode afetar de maneira dura a saúde emocional dos indivíduos, de acordo com a psicóloga. “A partir do momento em que aquilo que foi usado para se tornar uma ferramenta de conexão e aproximação de pessoas passa a determinar ou influenciar a vida do sujeito. Isso pode acontecer através de likes, visualizações e alcance. Ou pode, ainda, ocorrer através mesmo da interação das pessoas com o sujeito. Como essa determinação influencia, podemos ver que atualmente existe uma comparação com aquilo que é irreal e utópico, já que nas plataformas sociais vemos apenas aquilo que os outros querem nos mostrar. Por outro lado vemos que por ser um espaço liberal, as pessoas comentam aquilo que querem sem se importar com que o sujeito vá sentir, outro meio para atingir também é a interação direta do outro”, conta.
Com o avanço das discussões a respeito do tema nas mídias, muitos avanços foram feitos em relação ao preconceito de pessoas em relação ao tratamento clínico da ansiedade e depressão. Apesar do progresso, Claudilene aponta que ainda existe um árduo caminho até que a discriminação contra os males mentais seja extirpada. “Esse preconceito é ainda existente dentro da sociedade. Atualmente se faz mais comum dentro da própria família, que ao não enxergar os sintomas que talvez seria visto de maneira comum em doenças fisiológicas, acredita que de alguma maneira possa ser ‘frescurite’ ou ‘preguiça’ por parte da outra pessoa”, pontua.
Preconceito dentro de casa
Quem teve que vencer o preconceito dentro da própria casa para cuidar de si, é Ingrid Alves. Para o Jornal O Informante ela conta seu testemunho sobre como o caminho entre o diagnóstico e o tratamento foi árduo, passando por um desgaste que quase a desencorajou buscar ajuda.
“Não foi fácil. Eu resisti bastante, porque pensava que era sinal de fraqueza. Minha família nunca me apoiou. Diziam que eu era doida e quando sugeriram que eu consultasse com psiquiatra era em tom pejorativo. Ou falavam que era falta de oração. Percebi que precisava buscar ajuda quando os sintomas se tornaram físicos e eu fazia exames e mais exames e estava tudo perfeitamente normal. Na verdade, quem me incentivou a buscar ajuda foram meus amigos. Eu sozinha jamais teria procurado”, ela relembra.
Ela se recorda dos sinais físicos psicossomáticos que seu corpo dava, alertando que algo não estava bem em seu interior. “Uma dor de cabeça insuportável. Cheguei a achar que estava com tumor. Tinha muitas tonturas e não dormia”. De acordo com a jovem de 26 anos, os efeitos positivos do tratamento começaram a surgir após os seis primeiros meses. Ela exalta que o acompanhamento de um profissional a ajudou no seu autoconhecimento, e se considera uma pessoa melhor atualmente. “Foi um divisor de águas. Aprendi a lidar melhor com as minhas emoções e ansiedades. É um exercício árduo e diário, mas depois da terapia foi muito mais fácil e assertivo”, celebra.
Informação
Na opinião de Claudilene, tanto o preconceito quanto a ignorância referente ao tema, só podem ser combatidos de uma maneira: informação. A partir da construção de um caminho de diálogo entre as camadas da sociedade e transformação cultural, até que os números possam revelar a queda da taxa anual de suicídio no Brasil. Temos que trazer mais conscientização do que de fato é esse transtorno biopsicológico; o quanto ele afeta as pessoas que passam por ele. Seja através de campanhas específicas (como o setembro amarelo) ou seja por palestras e entrevistas com profissionais da área que tem autoridade para falar do assunto”, encerra.
Taisser Soares