Editorial –
A eleição presidencial, principalmente o segundo turno, em muitos aspectos se assemelha a uma decisão de título no futebol. E a disputa entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) tem muitos ingredientes que fortalecem essa alusão.
O PT é aquele time que no futebol seria apontado como de “camisa pesada”, por ter ficado no mínimo em segundo lugar desde a retomada da democracia através do voto direto em 1989. Nesse ano, o PT perdeu as eleições para Fernando Collor de Melo (PRN), em 1994 novamente segundo colocado, derrotado dessa vez por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o mesmo aconteceu nas eleições de 1998. Já a partir de 2002, só deu PT, ganhou as eleições de 2002 e 2006 com Luis Inácio Lula da Silva, e 2010 e 2014 com Dilma Rousseff, em todas as vitórias petistas o PSDB sempre foi o segundo colocado.
Outro instrumento de comparação são os torcedores; no futebol se fala que um dos maiores patrimônios de um clube é a sua torcida, e ela faz diferença quando veste a camisa e joga junto com o time, e nesse sentido a militância do PT sempre foi referência. No futebol não interessa se o time está jogando mal, o amor pelo clube perdura mesmo assim, e a torcida é tão importante, que mesmo com um representante limitado, como já aconteceu recentemente, conseguiu eleger uma candidata.
De 1994 a 2014 o PSDB, que também tem camisa pesada, sempre rivalizou com o PT na corrida presidencial, mas os tucanos nunca contaram com uma torcida apaixonada, e em 2018 sucumbiu, ficou em quarto lugar nas eleições, lugar que somente ficam satisfeitos os times pequenos, que entram no campeonato apenas visando não serem rebaixados.
Na disputa atual o PT enfrenta Jair Bolsonaro (PSL), que nunca disputou ou concorreu ao título de presidente. Bolsonaro não tem uma camisa pesada, seu partido até então era considerado “nanico”, mas em pouco tempo conseguiu angariar uma torcida apaixonada, e na primeira fase da competição terminou na liderança. Ele sequer tinha cores na sua camisa, mas sabiamente utilizou às cores da bandeira nacional criando assim certa empatia e um contraponto a bandeira vermelha do PT.
As duas torcidas dessa final tem algo em comum: a defesa incondicional de suas camisas e mobilização nas redes sociais. Outro ponto é desconsiderar literalmente os fatores negativos do seu candidato, e comparar os pontos positivos de quem defende com os negativos do adversário, e essa será sempre uma comparação desigual. Para os petistas não importa o histórico de corrupção do partido, nem o aparelhamento do estado em beneficio próprio, ou a crise política e econômica que mergulhou o país, nem o seu maior ídolo estar preso por corrupção ou tão pouco, a reprovação como gestor do seu atual candidato na tentativa de reeleição no município de São Paulo, cidade mais rica da América Latina e 15º do mundo, ficando com menos de 1/3 dos votos do candidato eleito.
Já os apoiadores do time Bolsonaro relevam seus posicionamentos radicais. Tratam como “piadinhas sem graça” as falas racistas e homofóbicas, desconsideram sua cegueira histórica ao tratar a ditadura como algo normal, e até seu flerte com os tempos de chumbo. Também não se importam com o desconhecimento do candidato sobre economia e outras questões básicas para uma boa gestão ou mesmo as declarações igualmente autoritárias dos filhos e do seu vice candidato.
No futebol, os mais vitoriosos normalmente conhecem os atalhos do campo, sabem o caminho da vitória, mas esse caminho mudou em 2018. Existem novos componentes, como as redes sociais ainda mais influentes, a vontade de mudança e a quase igualdade nas paixões das torcidas. Antes o povo brasileiro tinha uma postura mais conservadora, não discutia política, isso também mudou, agora boa parte, faz questão de marcar seu lado, algo que acontecia anteriormente somente com a torcida petista.
Para vencer essa final será preciso mais que apenas amor da torcida, como no futebol é necessário estratégia de jogo clara, não é recomendável mudar radicalmente durante a partida, nem demonstrar estar perdido na estratégia, pois confunde os próprios jogadores e torcedores. Bolsonaro tem uma linha definida, cores definidas e o mesmo slogan desde o inicio da competição, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, seu discurso é a luta contra corrupção, contra o PT, a favor dos valores da família tradicional e combate vigoroso ao avanço da criminalidade.
Já o PT patina na estratégia, a inicial era aprovação e indicação do ex presidente Lula, foi suficiente para ganhar eleições passadas e levar Haddad para o segundo turno, mas agora precisa ir além. O partido começou a disputa utilizando a tradicional cor vermelha e migrou no segundo turno para as cores do seu oponente, o verde e amarelo que pertence a todo povo brasileiro, mas sempre foi negligenciado pelo PT. O slogan de início da campanha era “Lula Livre”, quase um mantra, mas agora pouco se fala. Nesse segundo turno o discurso é pela defesa da democracia e combate à volta da ditadura, contudo, para virar o jogo, vai precisar atrair novos torcedores, e corre o risco de perder simpatizantes pelo posicionamento mais ao centro, e até proximidade com seu rival histórico, o PSDB.
Em todas as eleições anteriores o time que venceu o primeiro turno, mesmo por placar apertado, também venceu o segundo e levou o título. Pela primeira vez o PT entra em campo no segundo turno com a missão de reverter o placar. Como já foi dito, essa é uma eleição diferente de todas, e sem entrar no mérito de quem é melhor ou menos ruim, Bolsonaro é o favorito nessa disputa por ter saído na frente. Será preciso um fato novo e grave para mudar esse contexto, no entanto, o jogo só acaba no apito final do árbitro ou na contagem dos votos das urnas.
Márcio de Paula – Editor
10 Comentários
Permita me dizer que não gostei da analogia. No futebol ganha-se títulos. Numa eleição define _se o futuro da nação teoricamente e inicialmente por um período mínimo de 4 anos. No momento não existe o partido do PT contra outro partido. Existe a disputa democraciaxfascismo , como mostram jornais do mundo inteiro. O governo do PT foi o que tirou 40 milhões de pessoas da MISÉRIA e desenvolveu educação absurdamente , assim como bons projetos na saúde e outros. Teve muitos erros que não desmerecem seus acertos conhecidos e ovacionados pelo MUNDO inteiro. Infelizmente a corrupção existe desde a nossa colonização e precisa ser banida .De um lado , disputando a presidência , temos Haddad , eleito o MELHOR prefeito da América Latina em 2014 e só não foi reeleito pelo momento crítico Anti PT que teve seu apice com o Impeachment da Dilma. Foi o Ministro que mudou a Educação do nosso País, é capaz de reconhecer os erros do seu partido , tem um plano de governo definido e sabe debater sobre ele.Do outro lado temos Jair, ofensivo, arrogante, misógino, preconceituoso, homofobico,favorável à tortura e uso de armas, incapaz de conversar civilizadamente e nada conhece de seu plano de governo. Quando questionado diz que tem uma equipe. Mais o escândalo com fake News que fizeram com que ele chegasse a esse nível de votação. Inelegível, se tivéssemos leis severas. UM verdadeiro asno sendo reverenciado como mito. É o quê temos. Vamos ver o que a população elegerá para governante de seu país. Pessoalmente prefiro livros, amor e menos armas.
Respeitamos sua opinião Raquel. Obrigado por comentar. Certamente futebol é diferente de política, o texto abordou alguns aspectos comuns da decisão no futebol e na corrida presidencial que serviu para contextualizar como chegamos até aqui nesse segundo turno. No futebol o jogo acaba somente no apito final do árbitro e na política na abertura das urnas, em ambos não é indicado comemorar vitória antes da hora, porque sempre há possibilidades de mudanças. Contudo, evidentemente na política, após a decisão começa um novo ciclo. A analogia é apenas o pano de fundo, os assuntos tratados ali são bem sérios e envolvem os dois lados dessa disputa. Como o pleito está dividido, certamente um lado vai comemorar e outro vai lamentar, mas não acredito que o eleitor escolha querendo o pior para ele ou o país,são apenas pontos de vista diferentes que culminam em votos diferentes, é a democracia.
Grande Márcio!
Valeu Cláudia.
Caro Márcio, gostei muito de suas colocações comparando as disputas eleitorais com a disputa de títulos de futebol. Quando o time não está dando certo é imprescindível a troca de jogador e novas contratação e na política adota-se a mesma estratégia, qua seja, mudar de gestão com idéia de novas..Parabéns pelo editorial. MAURO
Valeu Mauro, grande abraço, valeu pelo prestigio e por sempre acompanhar nossos editoriais.
Excelente texto, Márcio.
Como sempre.
Espero que não aconteça como na disputa de 2014, o de o perdedor não aceitou a derrota e buscou o “tapetão”.
Mostrando posteriormente que esse derrotado era tão corrupto quanto.
Agora é “torcer” pra 2018 terminar essa eleição e que o vencedor consiga administrar o país que “é de todos nós”, e não de partidos ou políticos.
Apesar de muitos “torcedores” derrotados até mesmo torcerem contra o seu país, pra gritar em alto e bom tom, eu não votei nele, como se uma péssima gestão como a da Dilma não fosse prejudicial a todos.
Valeu pelas palavras Luciney. Também torço para que o vencedor governe, e que faça um bom governo, estamos precisando.
Gostei muito do texto comparando as paixões futebol e eleição, mesmo sabendo, todos nós, da interferência apenas na vida dos torcedores de um clube ou nos rumos do país e seu povo. Mais restrita ou mais ampla.
Foi muito bem colocada a comparação por ter trazido elementos reais e fáticos do cotidiano do torcedor e do cidadão sem o peso do processo eleitoral.
A leveza do texto, a meu sentir, “apazigua” (digamos assim) um pouco dos ânimos exaltados de parte a parte do eleitorado. Parabéns.
Obrigado Adalberto, foi exatamente esse o objetivo, tocar em pontos sensíveis de ambos os lados, mas dando “leveza” a um tema espinhoso para que corações e mentes exaltados possam captar a mensagem sem a animosidade que permeia esse pleito eleitoral.