Márcio de Paula – Editor –
Em um passado não muito distante, a “velhice” como era pronunciado antigamente, era sinônimo de limitação física ou doenças, as exceções eram pessoas com bom nível de informação e recursos financeiros, que tinham como se planejar para quando a melhor idade chegasse.
O que acontecia normalmente era começar a trabalhar cedo, se manter assim durante quase toda vida, aposentar e esperar o tempo passar. No caso das mulheres era ainda mais difícil, porque poucas conseguiam se inserir no mercado de trabalho. Não eram todos que chegavam à fase de requerer a aposentadoria, pois a expectativa de vida era menor.
Os fatores para tal contexto eram vários: havia alimentação com menos agrotóxicos, mas por outro lado, consumia-se muita gordura. A atividade física não era algo recorrente e a indústria da saúde não era tão avançada, além de pouco trabalho preventivo, sobretudo, a partir do poder público.
Mas um fato foi fundamental para começar a mudar essa realidade, a criação do SUS que aconteceu em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, que determina ser dever do Estado garantir saúde a toda a população. A partir de então começa a implantação dos postos de saúde que aconteceram de forma gradativa, atualmente são conhecidas como UBS (Unidade Básica de Saúde).
Com a implantação do SUS o processo vacinal foi ampliado, assim como as medidas preventivas. É mais econômico investir na informação e prevenção a gastar no tratamento das doenças. Apesar de ainda hoje alguns gestores terem dificuldades com tal percepção, o país avançou na saúde pública ao longo dos anos, continua deficitária, mas as melhorias são inegáveis, o que permitiu aumento na expectativa de vida da população.
No final da década de 60, a expectativa de vida era de 52,5 anos. Na década de 70, era de 57 anos, nos anos 80 foi de 62,5 anos, na década de 90, era 65,3 anos, na década 00 subiu para 69,9, e na última década aconteceu um grande salto e foi para 76,8 anos.
Informação, cuidado com a alimentação, atividade física, lazer, aperfeiçoamento da indústria da saúde como farmacêutica e cosmética e evolução tecnológica possibilitaram aumento na expectativa de vida com avanço na saúde física e mental.
Alguns setores do mercado se atentaram para essa nova realidade, como a indústria de turismo e de cosméticos que souberam aproveitar essa nova demanda de consumo, mas essa percepção não aconteceu no processo produtivo.
O mercado de forma geral, não aproveita essa força de trabalho, que vem com o valor agregado da experiência. Pessoas acima dos 45 anos tem dificuldades de recolocação no mercado e quanto maior a idade, mais difícil é.
Um grande exemplo sobre produtividade na terceira idade é Associação dos Aposentados e Pensionistas de Ipatinga (AAPI). Gerida desde sempre por aposentados, é, segundo a própria diretoria, a maior associação de aposentados do Brasil e uma das maiores da América Latina. A entidade que começou com a sede no bairro Imbaúbas em Ipatinga, expandiu para outros bairros e municípios, e atualmente conta com 6 unidades incluindo Cel. Fabriciano, e por último, Timóteo, que foi inaugurada no início de março deste ano. A próxima unidade será em Santana do Paraíso, e já foi anunciada também uma subsede em Timóteo.
A Associação que não para de crescer trabalha em algumas frentes, todas visando à promoção da saúde. Somente no ano de 2021, mesmo em época de pandemia, foram mais de 200 mil consultas, além dos exames, o que desafoga o sistema público de saúde e até o privado. A associação ainda conta com clube social, com uma tradicional seresta que está suspensa em função da pandemia, uma pousada em Guriri no ES e será construída outra em Prado na Bahia. A AAPI ainda oferta cursos profissionalizantes e aulas de inglês, além de outras benesses aos seus associados.
O crescimento foi tão acentuado que a AAPI abriu possibilidade para aposentados de outros municípios, e depois, para quem nem era aposentado, atualmente a entidade conta com mais de 40 mil sócios e mais de 180 colaboradores. A AAPI se consolida como um exemplo de coragem, visão, inovação, expansão e cuidado com o próximo, e por sua gestão e planejamento, tende a continuar avançando.
A Associação promove um rompimento de paradigmas, um exemplo para os mais experientes que tem medo de empreender e para os empresários que não optam por uma mão de obra com mais tempo de mercado. Em um período da história onde mais houve perda do público com mais experiência, em função da Covid, esse é um momento importante para não mais perder a oportunidade de aprendizado com quem já viveu mais e tem muito conhecimento a passar, seja no âmbito pessoal ou profissional.
A AAPI deixa um legado difícil de ser ignorado: que independente da idade ou do lugar é possível avançar, e a experiência joga a favor e não contra, podendo ser um grande aliado para alcançar os objetivos.