Leishmaniose avança sorrateiramente no Vale do Aço causando mortes de pessoas e cães

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Leishmaniose avança sorrateiramente no Vale do Aço causando mortes de pessoas e cães

lesão rosto

Por Márcio de Paula

Em tempos de guerra contra mosquitos, um menos conhecido vem causando mortes nas pessoas e eutanásia em cães no Vale do Aço; trata-se do mosquito Palha, um flebotomíneo responsável pela disseminação da leishmaniose que pode ser cutânea, mucocutânea ou visceral. A visceral é a forma mais severa, e justamente a que assola a região.

A transmissão é realizada através da picada do mosquito palha, o principal hospedeiro deste protozoário na área urbana é o cachorro, e quando infectado pelo mosquito, se torna um reservatório da doença. A leishmaniose também pode acontecer em região rural e de mata, através de raposa e roedores. É importante ressaltar que a transmissão não ocorre de cão para cão ou do cão para o homem, só através do mosquito-palha infectado. O Secretário de Saúde do município de Timóteo, César Luz, destaca sua preocupação com o tema, e alerta os proprietários de cão sobre cuidados preventivos redobrados. “A prevenção a leishmaniose é uma responsabilidade de cada cidadão que tem a guarda de um cão. Trabalhamos com o conceito de guarda responsável, ou seja, se você toma a decisão de ter um animal, assume responsabilidade perante ele e a sociedade. Se não cuidar corretamente, esse cachorro ao invés de se tornar um amigo trazendo alegria e satisfação, sendo quase um ente da família, pode se tornar um problema, um hospedeiro de doenças graves,” diz o secretário.

De acordo com Cesar Luz em Timóteo há cerca de 20 mil cães, a estimativa é para cada quatro casas, há um animal doméstico. Ainda segundo estimativas, cerca de 10% a 20% desses animais estão infectados com leishmaniose, algo em torno de 2.000 a 4.000 cães. “Não há dados que assegure esse número com exatidão, trabalhamos com amostras, e em alguns bairros percebemos que o numero de cães infectados é muito alto, como por exemplo, o setor leste, no bairro Alegre. Fizemos um inquérito canino e percebemos um elevado índice de infecção,” destaca o secretário.

Sintomas cães

Os sintomas no cão variam, sendo comum na leishmaniose o aparecimento de lesões graves na pele acompanhadas de descamações e eventualmente ulceras, falta de apetite, perda de peso, lesões oculares (tipo queimaduras), atrofia muscular, crescimento exagerado das unhas, problemas nos rins, fígado e baço que levam à morte (em um estágio mais avançado).

As lesões podem ser facilmente identificadas

As lesões podem ser facilmente identificadas

O veterinário Ermício Araújo Quintão falou sobre a importancia da prevenção com coleiras repelentes e vacina, que deixa o animal mais resistente, e a doença mais branda. Ele ainda destaca não ter cura a leishmaniose, mas a possibilidade de ser estabilizada. “Há tratamento que reduz o parasita a quase zero, ele continua lá, mas é controlado com medicamentos”, destaca Ermício.

Sintomas humanos

Na leishmaniose visceral humana, os primeiros sintomas podem ser associados ao descamamento da pele com destaque para regiões em torno do nariz, boca, queixo e orelhas, sendo frequentes também no couro cabeludo, onde estes são geralmente confundidos com caspa; e o aparecimento de pequenos calombos sob o couro cabeludo, geralmente sensível ao toque.

Outros sintomas são: rápido e intenso emagrecimento, dor abdominal, ausência de apetite, apatia, febre alta, intermitente e crônica com duração superior a 10 dias e alterações nos níveis de ácido úrico; nos pacientes vegetarianos, eles acabam por implicar sintomas muito semelhantes aos da gota, bem como alterações na quantificação de enzimas associadas ao fígado que podem gerar aumento do baço, acompanhado do aumento do fígado.

A taxa de mortalidade da doença nesta etapa é consideravelmente aumentada, devido seus sintomas serem facilmente confundidos com os de outras doenças, como malária, brucelose, febre tifóide, forma aguda da doença de Chagas, linfoma, mieloma múltiplo e anemia falciforme.

Mortes no Vale do Aço

No Vale do Aço em 2017 ocorreram varios óbitos pela doença e centenas de cães foram submetidos a eutanásia pelo serviço público, contudo, os dados seriam maiores se somados as realizadas por clínicas veterinárias particulares.

Ao perceber as feridas a recomendação é procurar um médico

Ao perceber as feridas a recomendação é procurar um médico

Em Timóteo de acordo com dados do setor de zoonose da Secretaria de saúde foram realizados 1.440 exames para detecção da doença nos cães, desses 325 foram positivos, na contra prova exame conhecido como Elisa realizado pelo governo do Estado, 171 casos foram confirmados e 91 cães foram eutanasiados, 56 estão aguardando eutanásia. Uma pessoa morreu no município decorrente da doença.

Em Ipatinga 6.582 cães foram submetidos a teste pelo setor de zoonose da prefeitura municipal de Ipatinga, desses 2.892 foram positivos, 2010 testes foram enviados para a sorologia e 1.895 cães foram eutanasiados. Em relação há óbito decorrente da doença, 6 pessoas tiveram morte confirmada por leishmaniose no município em 2017.

Já em Cel. Fabriciano foram realizados 308 inquéritos caninos com realização de testes rápidos em cães, desses 80 cães foram eutanasiados. No município 15 casos foram confirmados em pessoas e duas faleceram decorrente da doença.

No estado de Minas Gerais segundo a Secretaria de Saúde em 2017 aconteceram 85 mortes em função da doença, mas estima-se que o número seja maior em função dos casos não notificados.

No Vale do Aço somente nos três maiores municípios foram nove mortes confirmadas por leishmaniose ano passado, mas também há grandes possibilidades de uma quantidade maior de óbitos ter ocorrido em função da doença.

 

Alerta

De acordo com o secretário de saúde de Timóteo, se engana quem pensa que esse é um problema que assola principalmente bairros periféricos ou cães de rua, pois a leishmaniose está em todo município.  “O inquérito canino trabalha por amostragem, então verificamos que temos presença de cães infectados no município com um todo, citei o Alegre, mas verificamos presença da doença em bairros de classe média, com moradores de poder aquisitivo mais elevado, cães aparentemente saudáveis, mas com leishmaniose”.

A guarda responsável desse animal vai significar vacinação, coleira repelente contra o mosquito, manter higienizado desde a casinha do cachorro até toda aquela área onde ele transita evitando um ambiente propicio para o mosquito se reproduzir através de material orgânico, como folhas por exemplo.

Segundo César Luz o mosquito palha é mais difícil de combater que o Aedes Aegypti. “O Aedes aegypti precisa da água, já o palha se esconde e reproduz em qualquer material orgânico”.

 

Cães de rua

“Isso também gera custo alto para o município, porque ao contrário do que muita gente pensa, nós não matamos o animal. Ele passa por exame, contraprova, uma vez comprovado a necessidade de eutanásia é anestesiado com um produto químico altamente eficaz. É oferecida toda uma condição para que o animal não sofra”, destaca Cesar.

Se não haver acompanhamento o cão pode ser tornar um reservatório da doença

Se não haver acompanhamento o cão pode ser tornar um reservatório da doença

Em relação aos cães de rua não há uma forma de identificação visual. “Um animal de rua pode estar extremamente mal cuidado, por ter sarna e diversos tipos de problemas, e não ter leishmaniose, por outro lado cães aparentemente saudáveis, bonitos, fortes e pelagem bonita, podem estar com o protozoário é muito comum isso acontecer”, destaca.

 

Testes

Outro problema recorrente é a dificuldade de obtenção de testes rápidos suficientes e a disponibilidade do teste Elisa realizada pelo estado.

“Recebemos esse ano um quantitativo de 140 exames e não sabemos quando vamos receber mais, é absolutamente insuficiente, ano passado tivemos certa de 1.815 testes. Precisamos de mais teste rápido que é enviado pelo governo do estado”, diz o secretário de saúde.

De acordo com César Luz uma vez confirmado a prova, a contra prova demora certa de 40 dias, e aí surge outro problema quando se trata de cachorro de rua. “A gente coleta, faz o teste rápido, dá positivo, aí depois vamos coletar para a contra prova, e não encontramos mais o cachorro porque ele é de rua, não fica no mesmo lugar e os municípios em geral não tem area para alojar esses animais”, destaca.

 

Sem solução

A leishmaniose é um problema sem solução imediata, porque faltam exames, rapidez na contraprova, local apropriado nos municípios para alojar cães, carrocinha para recolher animais, consciência da população sobre a gravidade da situação, cuidados preventivos e sobram cachorros infectados, o que tem gerado aumento no índice de leishmaniose em cães e casos letais na população.

 

5 Comentários

  1. Maria Lúcia Mendes coelho disse:

    Penso que as escolas públicas, principalmente as de periferia, poderiam ter palestras sobre os sintomas e as causas dessa doença. E aterrorizante . No bairro Santa Cruz em Coronel Fabricado houve vitima fatal. A gente assustada e impotente diante de uma ameaça assim. Muitos animais de rua , muito lote cheios de Mato e lixo. Os donos não se importam . Seria um caso para acionar a defesa civil. Estamos vivendo situação de risco. Os hospitais atendem toda a região.

    • Marcio disse:

      Concordo plenamente Maria Lúcia, ótima sugestão as palestras em escolas públicas. No caso da Leishmaniose os mosquito palha reproduz em qualquer material orgânico, uma folha por exemplo, é uma situação de difícil controle que exige muita conscientização, e sobretudo, ação das autoridades e da sociedade.

  2. Tia Ká ( da Carla Barros) disse:

    Preocupante!
    Boa matéria.

  3. Giovana disse:

    Se não HOUVER. Pelo amor de Deus!

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