Márcio de Paula

Em tempo de crise econômica o maior temor de grande parte da população é perder o emprego, esse medo se justifica pelo avanço do desemprego nos últimos anos. Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a taxa de desemprego em 2014 foi de 6,8% da População Economicamente Ativa (PEA), em 2015 subiu para 8,5% atingindo 8,59 milhões de pessoas. Em 2016, a taxa média de desocupação ficou em 11,5%, somando 12,3 milhões de pessoas. Com o avanço do desemprego, a categoria dos trabalhadores por conta própria também aumentou, e chegou a 22,1 milhões de pessoas em 2016.

Em 2017 a taxa de desocupação é ainda mais assustadora e foi estimada pelo IBGE em 13,7% no primeiro trimestre de 2017. A população desocupada do país chegou a 14,2 milhões de pessoas, um novo recorde da série histórica iniciada em 2012. É preciso criar políticas para o Brasil aumentar as ofertas de postos de trabalho.

No Vale do Aço a situação não é diferente, sobretudo por não haver pulverização das atividades econômicas, sendo dependente de alguns poucos setores da economia. Em função da dificuldade de recolocação no mercado de trabalho muitos tem transformado um talento em fonte de renda.

Talento

Michele Duarte era assessora parlamentar na Câmara Municipal de Timóteo e perdeu o emprego no final do ano passado. Depois de algumas tentativas frustradas de nova recolocação, resolveu recorrer à maquiagem. Há cerca de quatro anos ela descobriu o amor por essa atividade, e desde então, maquiava amigas e familiares para bailes e festas, sempre gratuitamente.

No inicio desse ano, em função da necessidade, resolveu cobrar pelo serviço, ela faz maquiagem em domicílio e através de parcerias com algumas empresas. Em apenas três meses nessa atividade já faturava mais que no antigo emprego trabalhando menos tempo. Michele Duarte é casada e tem três filhos. “Maquiava minhas amigas, mas nunca cobrei, mas agora resolvi investir nessa área, já fiz dois cursos, me aperfeiçoei e estou feliz e realizada. Tenho mais tempo pra mim, minha família, ganho mais e tenho campo para crescer”, disse Michele que pretende expandir para penteados.

Trabalho em casa

Rosimere de Souza Salgado, moradora do bairro Alegre em Timóteo, engrossa duas estatísticas; a de quem perdeu o emprego e também trabalha por conta própria. Quando foi avisada que a empresa iria reduzir drasticamente o quadro de funcionários em função da crise econômica ela ficou muito preocupada. O que parecia uma péssima noticia, foi o inicio de uma grande virada. Trabalhos com bordado e costura é uma tradição familiar que Rosimere aprendeu com a mãe. Certa vez a viu confeccionar um tapete e ficou encantada, resolveu fazer um pra ela, depois passou a confeccionar tapetes para presentear amigas. Quando perdeu o emprego Rosimere postou alguns desses tapetes para comercialização no facebook. Ela confecciona tapetes personalizados de flor, bichos, times de futebol e jogo de banheiro, não lhe falta serviço.

“Desde o fim da licença a maternidade nunca estive tão perto da minha filha. Não tinha tempo porque sempre trabalhava o dia todo e aos sábados, agora a levo na aula de bateria e balé, algo que não seria possível ela fazer antes, pois não havia quem a levasse e buscasse. Faço um tapete por dia e me sobra tempo. Estou feliz, com mais tempo pra mim e para as pessoas que amo”, afirmou Rosimere, casada e mãe da Lauana de 11 anos.

Solda

O soldador Carlos Roberto, morador do Canaã em Ipatinga após ficar muito tempo procurando emprego e fazer alguns bicos de serralheria, resolveu transformar uma atividade que fazia nas horas de folga em uma fonte de renda. Sua matéria prima é o tambor, com ele faz moveis como armário, sofás e principalmente churrasqueiras personalizada com rodinha, balcão de pedra, grelhas e revestido de tijolo refratário. Ele começou a divulgação há três meses na internet e com amigos. Atualmente faz uma encomenda solicitada de Portugal, um presente de um brasileiro para o pai que mora em Ipatinga. Carlos começou apenas com uma máquina de solda e uma lixadeira. “Tudo é feito a partir do tambor, comecei fazendo aqui pra casa, depois para alguns familiares e agora estou vendendo. Hoje faço só por encomenda, mas em breve terei pronta entrega”, destacou Carlos Roberto que montou uma pequena oficina na própria casa.

Crescimento

O jovem Whitney Narx, morador do bairro Alphaville em Timóteo trabalhava em uma empresa no bairro Santa Terezinha em Timóteo e a crise no setor lhe custou o emprego. Estudante do curso de engenharia mecânica, ele havia feito curso técnico na IFMG em produção de eventos. Apaixonado por música aprendeu a tocar instrumentos musicais na Fundação Emalto, e posteriormente virou técnico de som da banda Ema, trabalho que acumulava junto ao antigo emprego. Com o dinheiro da rescisão Whitney investiu tudo em equipamentos, registrou uma empresa e está prosperando. “Não tive duvidas, resolvi apostas em que gostava e acertei. Quando faz algo que gosta, faz com mais amor e o trabalho passa ser prazer. Hoje atendo algumas grandes empresas e já trabalhei na produção de grandes artistas como Almir Sater, Alceu Valença, 14 Biss, em vários eventos empresariais e particulares. Também tenho atendido muito espetáculos em teatros como shows, peças e dança. Estou expandindo e mais feliz”, comenta o jovem empresário, que passou de desempregado a empregador.

Escolhas

Em função de uma aparente estabilidade muitas pessoas acabam deixando de desenvolver suas potencialidades, para passar uma vida trabalhando em algo apenas para sobreviver. E mesmo insatisfeitas, continuam porque aprenderam nunca “trocar o certo pelo duvidoso”, contudo, em boa parte dos casos o “duvidoso” é o certo, desde faça o que realmente goste.

Para o consultor empresarial, psicólogo e palestrante Roberto Guedes antes de seguir um caminho é preciso ter claro o seu potencial. “Primeiro é preciso saber quais são suas habilidades, depois traçar uma estratégia, para a partir daí,ver o que vai fazer. Quando faz com amor, vive uma vida mais feliz e harmônica”, destaca o consultor.