Editorial –
Na segunda matéria da série de reportagens produzida a partir da recuperação de alguns registros históricos do Clube Alfa, pouco antes da sua demolição, é possível comprovar através de fatos e relatos, como o esporte pode ser um diferencial na vida das pessoas. O clube Alfa era relevante nas mais diversas modalidades, a ponto de conseguir atrair para Timóteo o Campeonato Brasileiro de Judô, onde foram recebidas delegações de estados de todas as regiões do país.
O judô do Alfa durante um período foi um dos principais vencedores de Minas Gerais, desbancando na época, grandes clubes da capital mineira. No bicicross chegou representar o Brasil no Mundial e o clube também foi destaque em várias outras modalidades esportivas, como natação, vôlei, caratê, mountain bike, entre outros.
No esporte, até mais importante que formar campeões é preparar vencedores para vida e o Alfa cumpriu essa missão por meio de bons professores e priorizando a excelência. Os exemplos são vários, como o professor universitário de Educação Física Reinaldo Souza, que mora em Montes Claros e começou muito cedo no judô do Alfa. Para ele o grande aprendizado foi aprender a cair, e depois levantar, como acontece na vida.
O médico Rodrigo Magalhães que iniciou as atividades esportivas com 8 anos e passou por várias modalidades, se tornou um grande campeão no judô. Para ele a saúde física e mental, além da disciplina, concentração, respeito ao próximo e persistência foram os grandes aprendizados.
Já o empresário do setor imobiliário, Guilherme Americano, destaque na natação, tem a determinação e disciplina como principais valores aprendidos na época. Um dos representantes do clube no Mundial de Bicicross, o arquiteto Arístenes Giovanni, aprendeu entre outras coisas, a entender que nem todos os dias as coisas vão dar certo, mas que mesmo assim é possível vencer, trata-se de força mental e equilíbrio emocional.
A empatia e superação são o que melhor define o aprendizado de Júlio Cesar. Ele criou o Projeto Ajudou, que promove a inserção no judô de crianças e jovens em vulnerabilidade social. Já foram mais de 25 mil crianças e jovens atendidos, atualmente o projeto está em mais de 44 municípios entre Minas Gerais, Pará, Espírito Santo e Bahia. Trata-se da semente plantada no judô do Alfa que continua germinando e fazendo diferença na vida de muitas famílias.
Ao debruçar nos depoimentos e na história do antigo clube Alfa fica evidente a importância do esporte, mas infelizmente, essa prática diminui gradativamente. O primeiro motivo por esse retrocesso é a falta de políticas públicas perenes, muitos gestores ficam três anos e meio negligenciando o esporte e faltando 4 meses para eleição, promovem pequenos eventos em praça pública dando a falsa sensação de investimento no setor, com realização de torneio com duração de um dia. Vale lembrar que segundo a Organização mundial de Saúde aponta que a cada R$ 1,00 investido no esporte, R$ 3,00 são economizados com gastos na saúde.
Outro problema é o atrofiamento da educação física nas instituições de ensino. Essa era uma matéria levada a sério por estudantes e professores e não apenas algo figurativo na grade curricular. Haviam torneios internos nas escolas e campeonatos municipais e regionais, e muitos desses atletas se inseriam depois em algum clube, onde aperfeiçoava essa aptidão. Dessas competições regionais do Vale do Aço já saiu até medalhista olímpica, foi o caso de Lucimar Moura nas Olimpíadas de Pequim no Revezamento 4 x 100m.
Os investimentos dos clubes na formação dos atletas é outro gargalo que culminou em um número menor de crianças na prática esportiva. Antes existiam campeonatos regionais entre os clubes nas mais diferentes modalidades, isso também foi acabando nas últimas décadas. Os clubes enfrentam enormes dificuldades para atrair jovens e muitas dessas instituições estão sucumbindo.
No atual contexto social as crianças e adolescentes ficam muito tempo na frente a uma tela qualquer, seja nas redes sociais ou jogos, esse excesso tem causado danos de toda ordem e suprimido um tempo valioso que poderia ser mais bem utilizado.
Há ainda falta de incentivo dos próprios pais, muitas vezes pela alta carga de trabalho e afazeres ou mesmo por preguiça. É mais cômodo ter os filhos na sala ou no quarto pregado na tela de um aparelho eletrônico, a incentivá-los em alguma modalidade esportiva, mesmo porque, pode gerar maior demanda de tempo e também financeira. Lembrando que uma das formas mais eficientes de incentivar os filhos é através do exemplo, os pais praticarem atividade física, além de ser bom para eles, certamente irão incentivar os filhos.
É prudente uma reflexão dos vários atores da sociedade para que o esporte volte a ser realidade na formação das crianças e adolescentes. O poder público precisa fomentar e investir, as escolas enxergarem na educação física um instrumento poderoso de boa formação, os clubes criarem mecanismos para atrair novamente as crianças e adolescentes e os pais incentivarem seus filhos, afinal, no esporte todos ganham: a pessoa, a família e a sociedade.
Márcio de Paula – Editor
Confira a segunda reportagem da serie.
Acervo histórico do antigo clube Alfa mostra a força do esporte e o legado na transformação de vidas