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Minimalismo: onde menos é mais

Minimalismo

Por Márcio de Paula

Em uma sociedade onde cresce a necessidade de exposição do ter, que por vezes, sobrepõe o ser, também avança um movimento que segue um caminho inverso, o minimalismo. Como sugere o nome, trata-se de uma iniciativa de ter apenas o necessário, em  um exercício de desapego, autoconhecimento e questionamentos.

Para tentar entender melhor esse movimento a reportagem do jornal O Informante recebeu André Auke, ator, diretor, preparador de elenco, professor, palestrante, poeta, entre tantas outras atividades que desenvolve. Auke tem uma sólida carreira no teatro, com apresentações no Brasil e Europa. Também tem passagem por novelas, filmes e séries, a última foi Aruanas, da TV Globo. O ator é um minimalista.

Segundo ele não existe uma regra pré-estabelecida, cada um segue o modelo de minimalismo. “Pra mim é estar sempre com o foco no que é essencial para sua vida. Isso em todos os sentidos, nos relacionamentos e no material. É não perder tempo e dinheiro com coisas que vão trazer mais peso, e buscar leveza e fluidez. O minimalista traz a consciência para o agora” explica Auke.

De acordo com Auke, não houve uma ruptura ou gatilho para tomar tal decisão, tudo aconteceu progressivamente à medida que aumentou seu nível de consciência. “Comecei observando que precisava de menos coisas, roupa, por exemplo, se tem 50 peças e uso 10, então é preciso limpar. Também descobri que já tinha uma essência minimalista, e isso aconteceu através da arte, onde se consegue expressar a maior potência com o mínimo recurso,” lembra.

 

Não é voto de pobreza

O ator destaca que minimalismo não é voto de pobreza. Apesar de abrir mão do apartamento, vender carro e moto, ele diz que no momento, nada disso faz falta, pois está na estrada trabalhando, dando cursos, treinamentos, workshop, preparação de elencos, entre outros. No último ano esteve em Sta. Catarina, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerias. “Tem gente que acha que o minimalismo é voto de pobreza, não é isso, há muitas pessoas ricas que são minimalistas”, lembra.

André Auke fala sobre sua experiência com o minimalismo

André Auke fala sobre sua experiência com o minimalismo

 

Desapego

O desapego é uma das principais premissas do minimalismo, não é fácil, mas é libertador. Lama Dorje, que viaja o mundo dando palestra sobre felicidade, entre outros temas, em entrevista exclusiva ao jornal O Informante quando passou pelo Vale do Aço, disse que o apego é uma das grandes causas do sofrimento. Existem vários níveis de apego, alguns mais sutis e outros viscerais. “Tem o apego à família, ao marido, a mulher, as coisas materiais, inclusive o apego a si mesmo. Uma forma de ir pouco a pouco desapegando (e quando falo desapegar não significa negar o externo ou o dinheiro) é compreender a lei da impermanência. O apego surge pela visão errada de achar que todos os fenômenos externos que podemos experimentar através dos cinco sentidos são permanentes. Mas quando se compreende a impermanência, automaticamente não vai ter porque ter apego, pois nada nos pertence. O apego não nos deixa estar no tempo presente, vivendo com medo de perder algo e com aquela expectativa do futuro, gerando ansiedade e preocupação. Quando compreendemos a impermanência é maravilhoso, porque podemos viver o presente. Não precisamos negar os prazeres de uma boa casa, boa comida, mas saber que é passageiro, e se amanhã não tiver eu estou feliz igual”, disse Lama Dorje.

Para Auke exercer o desapego é fundamental no minimalismo e esse processo é diferente para cada um. “Sinto que pra mim foi mais fácil, e olho com muito respeito para quem sofre ao tentar desapegar de alguma coisa ou pessoa. Dou muito valor a minha espiritualidade, não estou falando de religião, e minha espiritualidade tem muita potência nessa questão do desapego. A meditação me ajudou muito nisso, porque me colocou em contato com o que tem de mais importante em mim, que é meu silêncio, minha tranquilidade e minha paz”, diz.

Mas Auke também teve seus desafios. “Foi difícil desapegar dos meus livros e não dá pra ficar carregando, então estou no processo do Kinder que tem mais haver com o minimalismo”.

Ele também falou sobre a consciência, impermanência e hiatos nos relacionamentos. “Sempre fiz muitos trabalhos de autoconhecimento e terapia, tive uma boa base e não senti tantas dificuldades em deixar pra trás. Eu não tenho ponto final na minha vida, tenho reticências, então desapego em relação a algumas pessoas quando sinto que é o momento. Talvez esteja numa relação que não está legal, que precisa de espaço, isso não quer dizer que é um ponto final. Cada um caminha para um lado, mas talvez lá na frente haja uma nova conexão. Nem a morte vejo como ponto final, então todo resto também não é. Se você tem conhecimento sobre si é mais fácil”.

 

Consumismo x consciência  

O conceito que menos é mais e do consumo consciente são bases no minimalismo. “O sistema manda o tempo todo informação que você precisa ter isso, trocar pelo mais caro, ter mais, e isso é anti-minimalismo porque vira escravo, e passa não ser mais dono de si. Sempre me questiono: necessito realmente disso, se a resposta for sim eu compro, mas se for não, emprego melhor esse recurso. Não estou levantando bandeira de não comprar, mas de um consumo consciente. Tem muita gente, por exemplo, que não precisa ter um iphone de última geração, mas para outras pessoas ele é importante porque vai ajudar no trabalho. Se você não se conhece, não terá o comando, e nesse caso, alguém terá, aí será manipulado”, enfatiza Auke.

Segundo Lama Dorje a prosperidade é importante, mas se não tiver consciência, em algum momento deixa de ser saudável. “Claro que a prosperidade é importante, ter uma casa, recursos, mas ela deixa de ser saudável quando foca toda uma vida nisso, só buscando recursos. Deixa de ser saudável quando coloca o foco só neste valor e se deixa controlar por esses desejos. O mais importante é o equilíbrio, quando cultivamos só o externo estamos sobrevivendo e não vivendo”, disse Lama Dorje.

 

Projeto

André Auke afirmou ter um sonho a realizar com sua mãe, que o apoia na sua escolha de vida. “Minha meta é daqui a três ou quatro anos, montar um motorhome e levar minha mãe comigo nas viagens, ela achou o máximo a ideia”, projetou.

Segundo ele há estipulado um modelo social de sucesso e felicidade, mas isso é muito individual. “Tenho 46 anos e a sociedade cobra você estar casado, ter 2 ou 3 filhos, uma boa casa, e um sítio ou casa de praia para ser considerado alguém que venceu na vida. Tem muita gente nesse lugar tomando remédio tarja preta, é lógico que não são todos. Como também conheço pessoas prósperas que vivem o minimalismo e resolveram trabalhar menos para curtir mais a família, amigos, viagens. O minimalismo te dá espaço para viver o que cada  um achar ser essencial, mas baseado nas suas escolhas”.

Auke esteve no Vale do Aço para fazer preparação de elenco para um teaser de uma série produzida por Elizel Mol , que visa   negociação do roteiro com uma streaming.  “Foi muito bacana, foram quatros dias, trabalhando 12 horas por dia em um processo de semi-imersão. Em todos os meus trabalhos, seja como ator, diretor, preparador de elenco ou nas palestras, a principal base é o autoconhecimento e também é uma das bases do minimalismo”, encerra Auke.