O governo iraniano rejeitou, nesta segunda-feira (13/01), o apoio demonstrado pelo presidente Donald Trump aos protestos que ocorreram nos últimos dias, sublinhando que o país não esqueceu a morte do general Soleimani e as sanções impostas ao país pelos Estados Unidos.
Entretanto, Teerã negou que a polícia esteja respondendo de forma violenta aos protestos que começaram depois que o governo do Irã admitiu culpa no acidente com um avião ucraniano na semana passada.
No último sábado, Teerã admitiu responsabilidade no abate de um avião da Ukrainian International Airlines, depois de vários negando envolvimento no acidente em que morreram 176 pessoas, incluindo cidadãos iranianos, canadenses e ucraniano, entre outros.
O incidente aconteceu na última quarta-feira (8) e as forças armadas iranianas admitiram que tudo se deveu a um “erro humano”, ocorrido horas depois de um ataque perpetrado por Teerã contra bases norte-americanas no Iraque, em resposta à investida norte-americana que matou o general Qassem Soleimani em 3 de janeiro.
Logo no sábado, depois do mea culpa das autoridades iranianas, o país registrou violentos protestos contra o regime, manifestações que se repetiram no domingo e nesta segunda-feira. Durante o fim de semana, o presidente norte-americano demonstrou no Twitter o seu apoio aos manifestantes, pedindo ao regime para que não exerça violência sobre quem protesta nas ruas.
“O Governo do Irã deve permitir que os grupos de Direitos Humanos monitorem e relatem os fatos sobre os protestos em curso do povo iraniano. Não pode haver outro massacre de manifestantes pacíficos, nem um apagão da Internet. O mundo está atento”, escreveu o presidente norte-americano no Twitter, em inglês e em farsi.
Donald Trump acrescentou, em outra mensagem dirigida ao “corajoso povo iraniano”, que a “presidência” norte-americana e a Administração “estão do seu lado desde o princípio e vão continuar ao seu lado. Acompanhamos de perto os seus protestos e estamos inspirados com a sua coragem”, disse.
Horas depois, o presidente voltava a avisar Teerã: “Líderes do Irã – NÃO MATEM SEUS MANIFESTANTES. Milhares [de pessoas] já foram mortos ou detidos, e o mundo está atento. Mais importante, os Estados Unidos estão atentos. Reponham a a internet e deixem que os jornalistas circularem livremente. Parem de matar o grande povo iraniano!”, escreveu em outro tweet, novamente em inglês e farsi.
Donald Trump referia-se indiretamente aos protestos violentos ocorridos no Irão contra o custo dos combustíveis. Nestas manifestações de novembro de 2019 centenas de pessoas teriam morrido e a internet foi desligada por completo de forma a impedir a divulgação de vídeos e de informações.
Já nesta manhã, o regime iraniano reagiu, através da televisão estatal, às palavras de Trump. Ali Rabiei, porta-voz do governo do Irã, assinalou os iranianos que não esqueceram d morte do general Qassem Soleimani e que os Estados Unidos são responsáveis por grande parte das dificuldades econômicas sentidas pelos iranianos no momento.
Para o porta-voz do governo de Teerã, os tweets de Trump em defesa dos manifestantes iranianos são “lágrimas de crocodilo”.
Ali Rabiei mencionou ainda o caso do Embaixador britânico no Irã, Rob Macaire, que foi detido durante alguns minutos pela polícia iraniana no último sábado. Segundo ele, o diplomata se comportou de forma “pouco profissional e completamente inaceitável”.
No Twitter, o diplomata explicou que apenas participou de uma cerimônia em homenagem às 176 vítimas do desastre aéreo, porque havia britânicos entre os passageiros.
“É ilegal prender diplomatas de qualquer país”, acrescentou. O ministro britânico para os Negócios Estrangeiros disse que o episódio foi uma “flagrante violação do Direito Internacional”.
Na sequência deste incidente diplomático, o Embaixador iraniano no Reino Unido foi chamado pelo primeiro-ministro inglês para dar explicações.
Este é o terceiro dia de manifestações em Teerã. De acordo com a agência Reuters, os manifestantes continuam a contestar o regime, após o abate do avião ucraniano.
Os vídeos publicados nas redes sociais mostram milhares de iranianos protestando contra os líderes iranianos, incluindo o Líder Supremo, o ayatollah Ali Khamenei, com gritos de “morte ao ditador”.
De acordo com o jornal The Guardian, a polícia iraniana respondeu aos protestos de domingo com violência e balas reais, provocando vários feridos.
“Dispararam repetidamente gás lacrimogêneo, não conseguíamos ver nada. (…) Uma jovem ao meu lado foi baleada na perna. Foi terrível, terrível”, disse uma das testemunhas ouvidas pelo jornal britânico que preferiu não se identificar.
Em um vídeo disponibilizado após os protestos de domingo, junto à Praça Azadi, em Teerão, surgem imagens de sangue no chão. “Este é o sangue do nosso povo”, diz uma mulher na gravação.
“Vi sete pessoas serem baleadas. Há sangue por todo o lado”, ouve-se em um outro vídeo publicado nas redes sociais, cuja veracidade o jornal The Guardian não conseguiu comprovar.
A polícia negou nesta segunda-feira ter respondido de forma violenta aos protestos. “A polícia não disparou contra os manifestantes. Os policiais da capital receberam ordens para mostrar moderação”, disse o chefe de polícia de Teerão, Hossein Rahimi.
De acordo com a agência Reuters, os protestos dos últimos dias já se espalharam a outras cidades do país, incluindo Shiraz, Esfahan, Hamedan e Orumiyeh.
No domingo, o ayatollah Ali Khamenei culpou a “presença corrupta dos Estados Unidos e dos seus companheiros” pela “atual situação turbulenta na região”, apelando por isso ao fortalecimento das relações entre os países na região.
Durante uma reunião com o líder do Qatar, o sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, o Líder Supremo considera que a cooperação entre países constitui um esforço “para evitar o risco de influência externa”.
Agência Brasil