Editorial –
Quando o ano de 2019 começou existia uma grande expectativa no mercado e por parte da população que o país entraria em um ciclo de avanço de forma sólida e perene. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) iniciou seu governo mantendo o discurso de campanha de combate à corrupção e realização de reformas, a começar pela previdência. Essas reformas são instrumento de promessa de campanha há mais de 20 anos, mas nenhum ex-presidente teve coragem e habilidade para realizá-las por se tratar de procedimentos impopulares.
Quando o atual presidente iniciou seu governo a confiança do empresariado da indústria estava crescendo, a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) era para além de 2,8% ao ano, a confiança do consumidor, assim como da indústria de construção e da prestação de serviço estava numa curva ascendente, o valor do dólar caia e a inflação também.
No inicio do ano deputados e senadores assumiram seus respectivos mandatos, representando significativa renovação no parlamento com destaque para a quantidade de eleitos do PSL, até então uma legenda pouco conhecida. O ambiente era favorável ao governo, cabia a ele então fazer a sua parte, elaborar uma reforma da previdência justa onde não privilegiaria nenhuma classe, como prometido. Para tanto, é preciso habilidade para negociar com o congresso e foi aí que começou a desandar todo o quadro favorável.
O presidente Jair Bolsonaro, deputado federal por vários mandatos, mostrou um despreparo assombroso para dialogar com a casa legislativa. Ele ainda não entendeu que tem um poder limitado. Tanto o presidente, como alguns de seus ministros, mostraram enorme potencial para criar crises desnecessárias, com declarações infelizes que em nada contribuem para o avanço dos projetos. Não é defendido aqui aquela velha forma de negociação com benesses, dinheiro ou emendas parlamentares em troca de voto, mas bom senso para estabelecer um diálogo com menos ruído, menos agressão e sem precisar voltar atrás nos pronunciamentos públicos.
É sabidamente conhecida a dificuldade de negociar com o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), que apesar de novo pode ser considerado uma “velha raposa”, eleito e reeleito nas trincheiras eleitorais do Rio de Janeiro. Maia já deu mostras suficientes do quanto pode ser complexo e difícil esse entendimento.
Bolsonaro não tem ajudado muito na aprovação da reforma que tanto deseja e parece não ter entendido que seu cargo exige certa liturgia e postura. Por vezes, se pronuncia sem pensar nas consequências como se estivesse falando em um churrasco de família, num dia de domingo. Compra brigas desnecessárias, agride, ofende, afirma sem ter certeza e depois volta atrás. Sua postura compromete seu governo.
A tão esperada reforma da previdência anda a passos lentos sem nenhuma garantia que acontecerá, enquanto isso a economia sofre. A previsão do PIB já foi onze vezes revisada para baixo, a confiança da indústria, do consumir e do mercado diminuem progressivamente, e a popularidade do presidente cai.
O grande problema não é apenas ver o estratégico tempo de inicio de governo passando e nada acontece, o mais preocupante é que o presidente dá pouco ou nenhum indício de mudança.
Economicamente o ano de 2019 está perdido, mas não o governo Bolsonaro, por enquanto. O presidente tem mais três anos e meio de governo, mas em seis meses entrega a população um país pior do que herdou. A Bolsonaro restam dois caminhos: mudar consideravelmente sua postura; estabelecer mais entendimento e menos embate; falar menos (incluindo no twitter) e agir mais; governar de acordo com o melhor para população brasileira e não segundo suas crenças e conceitos pré-concebidos e, principalmente, entender que em qualquer circunstância o exemplo parte do líder. O outro caminho é continuar alimentando provocações, discussões, estagnação e ser influenciado pelos filhos.
A forma como Bolsonaro conduziu o Brasil até aqui não promoveu avanços, é preciso mudança de rota com mais sensatez e sabedoria. À população resta cobrar dos parlamentares e do presidente posturas e ações responsáveis e coerentes para colocar o Brasil no caminho do desenvolvimento.
Márcio de Paula
Editor
1 Comentário
Concordo com vc Primo., sabias palavras.