Castigado pela greve dos caminhoneiros, o comércio do Vale do Aço tem vivido uma rotina cada vez mais complicada. Empresários de diferentes segmentos estão convivendo com ruas vazias, vendas em baixa e, em alguns casos, não veem outra saída a não ser fechar as portas temporariamente por falta de mercadorias ou outros problemas gerados pela paralisação que chegou ao 9º dia nesta terça-feira (29).
José Maria Facundes, presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Bens e Serviços (Sindcomércio) do Vale do Aço, garante que a entidade está atenta aos desdobramentos da greve, pois, conforme ele, muitos são os reflexos negativos no comércio e na prestação de serviços da região, bem como em toda sociedade. “A logística de milhares de empresários está prejudicada e esperamos que haja uma solução rápida por parte do Governo Federal, bem como bom senso do lado dos grevistas”, pontua. A paralisação, ressalta Facundes, afeta a circulação de pessoas, bens e mercadorias, além de impedir que muitos empregados consigam ir trabalhar normalmente. “Trata-se de uma questão há dias demandada ao setor jurídico do Sindcomércio, que está tomando as devidas providências”, revela o presidente da entidade.
Entregas comprometidas
Kátia Paiva, dona de uma loja de roupas no Horto, afirma que a greve tem um impacto direto em seu comércio, afetando-o negativamente em todos os aspectos, principalmente pelo fato de o fluxo de pessoas circulando e consumindo ter diminuído consideravelmente. “Por não se tratar de um segmento de primeira necessidade, o reflexo ruim no meu caixa também é imediato”, ressalta. Com relação às compras, a lojista comenta sobre a falta de entrega de mercadorias já pagas e, ainda, acerca do atraso nos pedidos para as próximas coleções. “Está praticamente impossível aos representantes das marcas virem nos atender, pois não têm a garantia de conseguir combustível pra chegar ou voltar. Aqueles que atendem em ‘showroom’ também são afetados, pois os clientes estão desmarcando os pedidos e visitas. Eu mesma teria que ir a Belo Horizonte nos próximos dias para comprar, mas não vou enquanto a situação não voltar ao normal”, diz.
Dia dos Namorados
Já Bruno Morais possui lojas de roupas em Ipatinga e Coronel Fabriciano. Segundo ele, o movimento no fim do mês já tende a diminuir em circunstâncias normais, o que se agravou nos últimos dias com seus clientes sem gasolina para sair de casa. “Toda essa confusão que o país vive também gera uma sensação de insegurança que faz o povo não gastar”, avalia. “No que diz respeito às mercadorias, muitos fornecedores deixaram de entregar os produtos. Estou muito preocupado, pois o Dia dos Namorados está aí e há o risco de eu não conseguir reforçar o meu estoque da maneira como queria”, emenda.
Bruno Morais, inclusive, teme que a inauguração de uma de suas lojas, em Timóteo, prevista pra acontecer no próximo 07 de junho, seja comprometida por causa da não chegada a tempo de produtos de decoração e roupas.
Supermercado
Proprietário de supermercados nos bairros Veneza, Canaã e Bom Jardim, José Garcia Neves falou sobre as dificuldades com a paralisação que chegou ao nono dia nesta terça-feira (29). “A greve está afetando – e muito – o segmento supermercadista, seja com a falta de mercadorias ou mesmo com a dificuldade de locomoção dos clientes até as nossas lojas. Muitos produtos não estão chegando e a gente os substitui por outros, mas compromete bastante o atendimento”, relata o empresário, reforçando que o trabalho do caminhoneiro é fundamental no processo de logística da maioria dos setores comerciais.
Restaurante
Dono de um restaurante no Bairro Cariru, o comerciante Augusto Nora, por sua vez, não pôde abrir as portas nesta terça após seu gás de cozinha acabar. “Na quinta-feira passada (dia 24), fui à feira e não encontrei quase nada. O que havia de ovos, verduras e legumes estava com o preço elevado. Já na sexta, o público do restaurante caiu um pouco, pois não houve aula nas escolas aqui por perto e boa parte dos funcionários da Usiminas também ganhou folga”, explica.
Já esta semana, na segunda-feira, Augusto revela que o número de clientes no restaurante diminuiu ainda mais. “Agora não tenho mais gás de cozinha, não consegui um fornecedor e também estou em baixa nos suprimentos de legumes e carnes”, acrescenta o comerciante, que ainda finalizou: “Assim mesmo, acho válida a greve dos caminhoneiros, pois pagamos muitos impostos e temos pouco retorno. Essa é uma das bandeiras da classe e eu apoio.”