Acervo histórico do antigo clube Alfa mostra a força do esporte e o legado na transformação de vidas

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Acervo histórico do antigo clube Alfa mostra a força do esporte e o legado na transformação de vidas

O médico Rodrigo, multicampeão no judô,  destaca que os ensinamentos e valores apreendidos na época contribuem para o exercício da sua profissão

O médico Rodrigo, multicampeão no judô, destaca que os ensinamentos e valores apreendidos na época contribuem para o exercício da sua profissão

Por Márcio de Paula –

O resgate de importantes objetos, vídeos, troféus, jornais e fotografias do antigo Clube Alfa de Timóteo realizado pelos jornalistas Mário Carvalho, da Revista Caminhos Gerais e Márcio de Paula, do jornal O Informante, relembra a história do clube e de Timóteo que já foi protagonista no esporte e na cultura.

Na primeira reportagem da série foi abordada a cultura através do Uirapuru  (link no final da matéria). Nesta o foco é o esporte. O Alfa se destacou em modalidades como Judô, Bicicross, Mountain Bike, Vôlei, Caratê, Natação, Peteca, Futebol de Salão, entre outras. Foi o grande expoente esportivo de Timóteo, representando a cidade em competições regionais, estaduais, nacionais e mundiais. O prestígio do clube era tanto que atraiu ao município o Campeonato Brasileiro de Judô, com delegações de todas as regiões do Brasil.

Muito além de revisitar algumas glórias esportivas do passado, as experiências dos atletas da época proporcionaram relevantes consequências no presente. A psicóloga Mércia Martins destaca que a inserção no esporte na infância traz muitos benefícios. “Aplicando o esporte desde a vida infantil, teremos melhoria na autoestima, desenvolvimento de liderança e aprendizado na convivência em grupo, ajudando no desenvolvimento físico e psicológico. Nessa fase da infância o esporte é fundamental, pois é nela que guardam estes conceitos na memória muscular e cerebral”, ressalta a psicóloga.

Segundo a psicóloga Mércia há benefícios mentais para crianças com a iniciação no esporte

Segundo a psicóloga Mércia há benefícios mentais para crianças com a iniciação no esporte

Os exemplos que corroboram com a afirmativa de Mércia são muitos.  O médico Rodrigo Souza Magalhães começou a treinar no Alfa ainda novo, passou por várias atividades e encontrou no judô maior identificação. Foi destaque e uma das referências estaduais e até nacionais na sua categoria. “Tive o grande privilégio de fazer a minha iniciação esportiva no Clube ALFA desde os 8 anos de idade, em contato com diferentes modalidades, como natação, futebol, peteca, atletismo, judô, entre outros. Foi no judô que pude desenvolver toda a minha vocação esportiva, que envolvia a dedicação diária a treinamentos intensos e a participação em competições regionais, estaduais e nacionais, com o acompanhamento dos professores Flávio de Almeida e Tasso Guerra. Dessa forma, a prática esportiva sempre esteve presente na minha vida, desde a infância, adolescência e idade adulta”, relata Rodrigo.

Segundo o médico, o aprendizado da época foi importante e ele carrega até os dias atuais, contribuindo inclusive na sua profissão. “Hoje tenho plena consciência que além dos benefícios para a saúde física e mental, com melhora do condicionamento físico, consciência corporal, coordenação motora e equilíbrio emocional, a prática esportiva desde a infância contribuiu de forma crucial para o processo de amadurecimento pessoal, com desenvolvimento de disciplina, capacidade de concentração, respeito ao próximo, persistência para alcançar objetivos e aprendizado com as vitórias e, principalmente, com as derrotas. Valores que levo de forma intuitiva para a minha vida pessoal e profissional”, enumera.

O professor universitário Reinaldo continua competindo e dando aulas de judô

O professor universitário Reinaldo continua competindo e dando aulas de judô

 

Perder e vencer

A psicóloga Mércia Martins lembra que um dos grandes desafios atuais é ensinar as crianças a lidar com as frustrações, motivo de muitos transtornos e até suicídios. De acordo com ela, o esporte também contribui nesse sentido.

O professor universitário Reinaldo Souza Santos, um dos destaques históricos do Judô do Alfa, comenta sobre os ensinamentos que carrega por toda vida. Ele começou em 1985 e ainda permanece, seja dando aula ou competindo na categoria sênior. “O Judô é de fundamental importância, pois tem grande capacidade para treinar para vida. A primeira lição que temos quando entramos é aprender a cair, repetindo inúmeras vezes exercícios educativos para cair com segurança. Só depois disso que ganhamos o privilégio de aprender a derrubar. Mesmo quando tornamo-nos excepcionais derrubadores continuamos caindo, sempre. E assim nessa lição diária de determinação e humildade compreendemos que no Judô e na vida o mais importante não é aprender a não cair, isso é inevitável, mas aprender a se levantar. Como diria um dos princípios máximos do Judô: – somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade -”, destaca o aluno\professor.

A prática esportiva é importante para compreender situações, e principalmente, elaborar e colocar em prática estratégias, quesitos presentes na história do arquiteto Arístenes Giovanni, um dos destaques do clube na categoria bicicross na década de 90. Ele representou o Alfa, Timóteo e o Brasil no Mundial. “O esporte foi fundamental na minha formação como pessoa. Não só no bicicross o qual me dediquei com mais afinco, mas em todos que pratiquei e ainda pratico. Aprendi sobre dedicação, disciplina, superação, respeito ao próximo, a vê-lo como adversário, mas nunca inimigo. Ensinou-me saber perder e ter consciência que nem todos os dias as coisas vão dar certo. E aceitar o mérito do outro. Isso tudo nos faz crescer na vida e na profissão, ensina que podemos chegar lá, que podemos nos superar nas pistas e rampas da vida. Então é se jogar e acreditar”, aconselha Arístenes, que mora em Alphaville na grande Belo Horizonte.

Para o arquiteto Arístenes que disputou mundial, o bicicross trouxe grandes ensinamentos

Para o arquiteto Arístenes que disputou mundial, o bicicross trouxe grandes ensinamentos

O empresário do setor imobiliário Guilherme Americano, que reside e tem empresa em Uberaba, quando criança se destacou na natação do Alfa. Ele lembra com carinho dessa época. “O Alfa é parte importante da nossa história e da cidade. O que o jornal O Informante está fazendo é uma espécie de reconexão. É difícil até mensurar como a natação foi importante na minha vida. Começou como lazer, mas foi ficando sério e me ajudou muito na questão da saúde. Foi para mim uma espécie de faculdade da vida, aprendizados como determinação, disciplina e coragem me influenciam até hoje, inclusive no trabalho. Tivemos na época excelentes treinadores que nos ajudaram em todos os sentidos”, lembra Guilherme Americano.

 

 

Superação

Engana-se quem acredita ser necessária alguma aptidão prévia para iniciação esportiva. Não é raro encontrar criança que acham que não são boas em nenhuma modalidade ou fundamento, mas conseguem se superar. Júlio César Lana Jaques é um bom exemplo disso. “Quando somos novos e estamos em formação em todos os sentidos, são vários os aprendizados que vão norteando nosso caráter. Acho que superação foi o meu maior aprendizado naquela época, porque quando eu comecei no judô do Alfa, não era bom em nada, não tinha flexibilidade, não corria muito, não era muito corajoso, não sabia dar mortal, enfim, eu era um invisível no tatame. Era bonzinho e esforçado, mas eu gostava do judô e não faltava às aulas. Sempre fui muito sonhador e simplesmente pus na cabeça que ia ser o melhor e que seria um faixa preta. Os anos se passaram e fui levando, passei a ser uma referência nos tatames do ALFA, sendo promovido a faixa preta em 1991, um dos primeiros do Clube”, lembra.

A paixão e os ensinamentos do judô motivaram Júlio criar o Projeto Ajudôu

A paixão e os ensinamentos do judô motivaram Júlio criar o Projeto Ajudôu

Júlio César lembra uma grande dificuldade enfrentada na época e como o esporte e a família foram importantes quando sofreu um grave acidente de automóvel e perdeu seu irmão Eduardo, também ex-judoca do Alfa. “Eu sofri muitas e graves fraturas, fiz 7 cirurgias pesadas e fiquei uns 3 anos sem poder andar, isso foi muita superação e devo a minha família, meu pai Cassio, minha mãe Lacy e meu irmão Carlos Henrique. Juntos sobrevivemos a essa tragédia. O judô também me Ajudôu a superar esse momento através do ensinamento de superação que aprendi ainda criança.”

 

Empatia

A psicóloga Mércia Martins lembra que empatia é outro importante ensinamento do esporte, e um dos melhores exemplos que pode ser apontado nesse sentido é Júlio César, fundador e diretor do Projeto Ajudôu, que proporciona aos jovens, principalmente em situação de vulnerabilidade social, acesso ao judô. Em 26 anos de atuação de forma ininterrupta, o projeto já atendeu mais de 25.000 crianças e jovens. Atualmente atende 8.000 crianças em 44 municípios em Minas Gerais, Pará, Espírito Santo e Bahia. “Incrível pensar que tudo parece que estava me preparando para os desafios do projeto. A história se repetiu, o Ajudôu é pura superação”, lembra Júlio.

O empresário Guilherme Americano disse que a natação foi muito importante na sua vida

O empresário Guilherme Americano disse que a natação foi muito importante na sua vida

 

Incentivo

A falta de incentivo de muitos pais no esporte é motivo de preocupação da psicóloga. A maior parte já se acostumou a ver os filhos apenas nas telas do Smartphone ou tablet. Segundo Mércia os malefícios são vários. “É um risco absurdo as crianças ficarem muito tempo na tela. Podem ficar mais agitadas, imediatistas, com comportamento irritadiço, baixa tolerância, sedentarismo, sono prejudicado, falta de interação social entre outros fatores físicos e psicológicos”, enumera. Ela ainda faz um alerta aos pais: “Sabemos as dificuldades que há por questão de trabalho e afins, mas é extremamente importante buscar para os filhos momentos de lazer e esporte”.

 

Investimento

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a cada R$ 1,00 investido no esporte, R$ 3,00 são economizados na saúde pública. O professor de educação física Reinaldo Souza lamenta a perda de espaço do esporte e a falta de investimentos públicos. “No Brasil falta incentivo e políticas públicas, principalmente na base”. Arístenes também vê com preocupação o pouco investimento no setor: “Os governantes deveriam, cada vez mais, investir no esporte e na educação, pois são pilares para formação de pessoas melhores, de crianças e jovens mais saudáveis e felizes. A redução desses espaços nos municípios são perdas imensuráveis de oportunidades, torço para que novos Alfas apareçam na vida das crianças e das cidades,” finaliza.

 

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