O pássaro popularmente conhecido como bicudo (Sporophila maximiliani) foi avistado pela primeira vez, em vida livre, em Minas Gerais, após 80 anos sem ser identificada no estado. Apesar de comum em criatórios, essa espécie possui raros registros na natureza em todo país. Após quatro anos de busca, a ave foi avistada por um morador na região do leste mineiro no início deste mês.
Uma equipe do Waita – Instituto de Pesquisa e Conservação, se deslocou imediatamente para o local, onde foi realizado o registro de três pássaros, um sozinho e um casal formando ninho. Considerada extinta em diversos estados, a espécie está criticamente ameaçada de extinção no Brasil, sendo um dos alvos do Plano de Ação Nacional para Aves da Mata Atlântica.
Diante da situação, o Waita iniciou, em 2016, um programa de conservação do bicudo em Minas Gerais, com apoio da Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). As ações de conservação contam, ainda, com o apoio das universidades federais de Viçosa (UFV), de Ouro Preto (Ufop), da UFMG, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e de criadores da espécie, devidamente autorizados.
A meta inicial do programa foi realizar buscas pela espécie em vida livre e coletar informações sobre comportamento, ecologia, caracterização genética e sanitária das populações em liberdade. Paralelamente, foram realizados estudos técnicos-científicos em cativeiro autorizado para conhecer melhor o bicudo, a fim de subsidiar um programa de conservação e reintrodução da espécie em Minas Gerais.
Morador do Leste mineiro, José Paulo dos Santos foi quem avistou o pássaro e entrou em contato com a equipe do projeto. Ele já havia auxiliado nas buscas pela espécie, em 2017, e já sabia da existência da ave na região, porque costumava vê-la nos arredores de brejos e lagos em que costumava pescar. “Desde então, virou uma questão de honra encontrar o bicudo”, diz.
Bióloga do Waita e coordenadora do programa de conservação do bicudo, Alice Lopes ficou maravilhada ao avistar o animal. “Após quatro anos de buscas da espécie em vida livre, é uma alegria enorme poder vê-los vivendo em ambiente natural. Renova nossas energias e esperanças de que repovoem o Estado. Esse registro possibilitará diversos estudos comportamentais sobre habitat, alimentação e reprodução, que são praticamente inexistentes e serão fundamentais para subsidiar um futuro programa de reintrodução”, afirma.
A diretora de Proteção à Fauna do IEF, Liliana Nappi Mateus, ressalta que a redescoberta do bicudo, um animal que se acreditava extinto no ambiente natural, é um marco para a toda a sociedade, uma vez que reforça a responsabilidade comum de proteção a espécie, possibilitando que esses três indivíduos deixem de ser os únicos registros no estado. “Para o IEF essa redescoberta fortalece ainda mais o exercício da sua competência de promover a proteção, conservação e recuperação da fauna silvestre em Minas Gerais”, destaca.
O analista ambiental do Ibama em Minas, Daniel Vilela, também frisou a importância do registro após 80 anos: “o bicudo sempre foi uma espécie naturalmente rara e sofreu muito com a captura e criação clandestina devido ao seu belo canto e a seu valor comercial. Poucas pessoas acreditavam que este reencontro em Minas Gerais fosse possível. Este novo registro alimenta a esperança de repovoar o estado”.
Agência Minas