Editorial –
No Brasil, um dos líderes mundiais de feriado e feriado prolongado, há uma máxima que o ano começa realmente depois do carnaval, mas tragédias como o rompimento da barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho, o temporal no Rio de Janeiro com alagamento e mortes e o incêndio no alojamento nas categorias de base do Flamengo demarcaram com ênfase o inicio do ano antes da festa mais popular do país. Nas redes sociais há comentários como: “acaba logo 2019”, “que ano é esse?”, “ainda faltam 315 dias para o ano acabar”, mas será realmente que a culpa é de alguma força ou energia proveniente do ano?
A primeira tragédia foi o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. De acordo com balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais nesse dia 26, subiu para 180 o total de mortes identificadas e 130 pessoas desaparecidas. Segundo o “Estadão Dados” a Vale, suas mineradoras e empresas subsidiárias tiveram influencia em 25 Estados e no Congresso Nacional ao distribuir, por meio de doações oficiais e legalizadas, recursos que somaram R$ 82,2 milhões aos três candidatos mais votados à presidência, governadores, senadores e deputados. Foram 139 parlamentares estaduais e 101 federais, além de 7 governadores e dez senadores eleitos somente em 2014.
No contexto estadual, segundo matéria da rádio Itatiaia, as empresas mineradoras doaram dinheiro para 80% dos deputados estaduais mineiros eleitos no pleito de 2014, na ocasião as doações de pessoas jurídicas ainda eram autorizadas. Somente 18 dos 77 deputados eleitos não receberam recursos de companhias ligadas à mineração, as doações ultrapassaram a casa dos R$ 4,2 milhões em Minas Gerais.
Essas doações da Vale e empresas mineradoras não aconteciam por bondade, mas porque são os políticos os responsáveis pelas regulamentações e execuções das leis, e está claro que essas leis são pouco incisivas, e por vezes, evasivas. Ao que parece essas “represas de rejeitos” tem data de validade, e Mariana foi apenas o primeiro aviso e pouco foi feito desde então. Brumadinho teve consequências piores, mas é apenas o segundo aviso, se não houver maior rigor na fiscalização, prevenção e punição, certamente haverão tragédias piores e já anunciadas.
No Rio de Janeiro o temporal também causou mortes. Com a natureza cada vez mais agressiva o homem paga o preço pelo aquecimento global causado pela poluição desenfreada. Quanto à intensidade das chuvas não há como controlar, mas como prever e promover ações preventivas para amenizar os danos. Já as inundações estão diretamente relacionadas às ações do homem, pois são provenientes de projetos mal feitos, ocupações irregulares, não limpeza das redes de esgotos e o mau descarte do lixo em córregos, rios e vias públicas, desde grandes quantidades a um papel de bala jogada na rua.
No incêndio que culminou nas 10 mortes dos jovens das categorias de base do flamengo no Ninho do Urubu, o enredo foi parecido, o da irresponsabilidade. Onde existia o alojamento destruído pelas chamas, estava no projeto um estacionamento, no lugar não havia condições de segurança e laudos do corpo de bombeiro. Ou seja, teoricamente o alojamento não poderia estar ali, o clube assumiu o risco quando colocou crianças em uma área inflamável, sem as devidas precauções exigidas pelo corpo de bombeiros. Junte a isso a omissão dos órgãos públicos que multaram o Flamengo mais de 30 vezes, mas não interditou o local, o que aconteceu somente nesse dia 27 de fevereiro.
Todos os acontecimentos citados corroboram com a teoria do filósofo inglês Thomas Hobbes que diz que “O homem é o lobo do homem”, ou seja, é seu pior inimigo. O 2019 é apenas mais um ano que começou dia 01\01 e terminará 31\12, já os acontecimentos não são causas, mas consequencias. É preciso ter senso crítico e coragem para olhar para dentro, enxergar as mazelas, conformismo e inoperância. Infelizmente é mais fácil continuar estagnado na zona de desconforto e culpar “o peso” de um ano, a encarrar a realidade e cobrar dos verdadeiros culpados. Nesse ritmo as tragédias do ano que vem, caso aconteçam, já tem culpado, o ano de 2020 que continuou com a energia “ruim” do ano de 2019.
Márcio de Paula
Editor
1 Comentário
Vamos ver até quando nos reduziremos ao conformismo sem exigir uma postura ética de nossos governantes, associada ao fim dessa corrupção que assola nosso País.